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PASSO NÚMERO III

Avenida das Estrelas

 


 

Memórias de Carlito

 

Eu já estava completamente ambientado com aquela nova realidade. Já havia estabelecido minha rotina: Acordava às 5 da madrugada, tomava meu café da manhã repleto de tudo o que havia de mais saudável! As frutas que nós havíamos plantado, o pão que nós havíamos preparado e a “água da vida”. A cada dia esta “água milagrosa” tornava meu corpo cada vez mais perfeito, os problemas de saúde que eu tinha antes de morrer iam ficando cada vez mais no passado. Embora eu não entendesse perfeitamente como isto se dava, tinha a consciência de que com o tempo certo alcançaria o entendimento. Depois ia para as plantações, em seguida para o almoço, depois para a construção de novas casas e, por fim, retornava para o refeitório, um lugar onde a confraternização tornava cada dia especial. E era ali que nós recebíamos as designações para o dia seguinte, como por exemplo, comparecer na “avenida das estrelas” para receber alguém que iria “chegar”! Esse era o nome daquele lugar, pois na frente do prédio, havia uma avenida, a mesma que havia visto lá de cima quando fui ressuscitado, a avenida das estrelas!

Certo dia ficamos sabendo de uma ressurreição de um grupo – quando várias pessoas morriam juntas, eram ressuscitadas ao mesmo tempo – e decidi que teria que presenciar aquele momento! Eram os jovens de uma boate que havia incendiado. Foi uma tragédia que marcou a todos da minha geração... Eles eram muito jovens, a dor dos familiares foi imensa, a cidade ficou de luto e houve comoção no país inteiro. Eu tinha que estar lá!

Nestes casos especiais, os pedidos para ter o “privilégio” de presenciar esta chegada se multiplicavam. Mas quando não era uma pessoa da nossa família ou do círculo de amizades, era preciso obter autorização especial dos anciãos. Havia transmissão por TV para que todos pudessem assistir simultaneamente – Sim, havia este tipo de aparelho, mas ninguém passava o dia inteiro sentado à sua frente. E como eu acabara de “chegar”, fui contemplado com este privilégio!

Bem antes do horário marcado eu já estava lá e pude ver a alegria no rosto das pessoas que não queriam perder aquele momento, in loco! Eram amigos, pais, mães, irmãos, tios... Cada minuto que passava era um a menos naquela contagem regressiva para o tão sonhado reencontro! Todos nós ficávamos a aproximadamente 300 metros do prédio onde o “milagre” acontecia, posicionados numa linha imaginária e prontos para correr ao encontro deles!

O prédio era todo envidraçado, muito alto e ficava entre duas montanhas. Acontecia praticamente assim em toda parte e as pessoas iam sendo ressuscitadas no seu devido tempo. A sensação era sempre a mesma, a felicidade, o sorriso, depois as lágrimas, e depois mais sorrisos... Era sempre igual, mas ao mesmo tempo, diferente! Inexplicável, mas fácil de entender para aqueles que presenciavam aquele momento! Todos ficavam olhando atentamente para as vidraças do prédio, aguardando que seus parentes aparecessem. E depois era – literalmente – correr para o abraço!

A primeira que apareceu na janela provocou uma gritaria imensa! Não sabia se devia olhar para o prédio ou se me deliciava com a felicidade das pessoas ao meu lado. Uma mulher já se ajoelhava chorando de felicidade com as mãos no rosto enquanto outra permanecia estática olhando na direção do prédio... Outras mais quase deliravam de alegria! Enquanto olhava para a multidão, quase perdi o momento em que outros jovens se juntaram àquela moça na janela! Agora era quase uma histeria coletiva! Não pude conter minha felicidade e chorei também! Ao retornar novamente minha atenção para o prédio, eles já haviam desaparecido da janela. Então eu sabia que agora deveria mirar na direção da portaria do prédio e assim o fiz, poucos segundos antes de vê-los em disparada ao nosso encontro. Subitamente aquela “linha imaginária” se desfez, com uma corrida desenfreada da multidão que mais lembrava aquelas guerras travadas na idade média, onde os opostos se enfrentavam em lutas sangrentas! A cena era muito parecida, só que não havia confronto... Nessa “batalha”, as armas usadas eram os abraços, os beijos e gestos de carinho entre elas! Pessoas caiam ao chão com os braços abertos, olhando para o céu e outras caiam sobre elas, rindo e chorando!

Eu não sabia mais pra onde olhar... Então ouvi alguém me dizer:

 

- “O amor é uma avenida de Estrelas!”

 

O rosto de cada uma delas tinha uma expressão diferente, todos estavam iluminados... e tudo era felicidade! Foi então que eu compreendi porque o lugar era conhecido como “avenida das estrelas”... Cada um deles era uma estrela! Cada um era como uma personalidade, como um “astro” de cinema da minha época... Cada um era saudado como se fosse uma pessoa realmente especial, única! E elas eram!

Embora tivessem acabado de chegar, todos conseguiam correr, ainda meio desajeitados, com passadas cambaleantes, mas determinados! A cada passo se sentiam mais livres!

Todo dia era para mim uma nova experiência, uma mais fantástica que a outra, mas aquele dia foi pra lá de especial!

O dia em que eu vi a razão para o nome “Avenida das Estrelas”!


 

 

 

IMPORTANTE: Este é apenas um RESUMO deste capítulo e deve ser utilizado APENAS como guia para se ouvir a trilha sonora. Para leitura completa, por favor, faça o DOWNLOAD do arquivo em PDF.

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