Memórias de Carlito

 

Acordei numa maca... parecia que eu estava num hospital. Conforme fui recuperando a visão, comecei a distinguir pessoas vestidas de branco... pareciam médicos... ou enfermeiros... Me sentia bem e havia um clima de paz profundamente reconfortante. Em poucos minutos eu já estava plenamente recuperado daquele transe e já havia me sentado. Tinha uma fome enorme, meu estômago estava literalmente vazio, mas só me deram água para beber! Disseram que alimentos sólidos, só depois de algumas horas. Reparei numa janela muito grande e algumas pessoas estavam olhando através dela. Um daqueles “médicos” se aproximou de mim e me orientou para que eu fosse até lá e me juntasse aos outros. Levantei-me devagar e caminhei com cuidado até alcançar o grupo. Percebi que estava num prédio muito alto... Todas aquelas pessoas permaneciam completamente estáticas e olhavam para baixo, como se não acreditassem no que estavam vendo... Elas sorriam e pareciam procurar por algo... Notei que lá em baixo era um lugar vasto com muito verde, havia uma avenida e ao final dela, muitas pessoas olhavam em nossa direção. Havia um grupo formando um tipo de cordão de isolamento onde os outros aguardavam pacientemente, olhando em nossa direção... Fixei meu olhar e... para minha surpresa, reconheci várias daquelas pessoas... No momento em que eu as observava, começaram a acenar para mim e as que estavam ao seu redor também eram incrivelmente parecidos com meus parentes... Reconheci minha esposa entre elas e, então, tive a certeza de que não havia morrido! Eu havia sobrevivido!!!

Então percorri com o olhar em busca de Luana, mas não a encontrei. Repentinamente, as pessoas que estavam ao meu lado saíram em disparada! Como eu ainda estava meio confuso, só girei a cabeça para acompanha-los descendo pelas escadas... Imediatamente, percebi que estavam indo se encontrar com seus familiares e fiz o mesmo!

Fui o último a sair no prédio e a cena que presenciei era maravilhosa! As pessoas se abraçavam e rodopiavam como se estivessem dançando! Algumas se ajoelhavam e choravam! Outras erguiam os braços para o céu como se estivessem agradecendo a Deus! Foi então que vi meus amigos e minha esposa correndo em minha direção. No meio de tanta felicidade, notei uma moça incrivelmente parecida com Luana! E ela vestia uma camisa com a estampa de um beija-flor... Aquele sorriso era inconfundível, era Luana mesmo!!! Mas não era mais uma criança, já estava uma moça! Fiquei confuso, sem reação até sentir uma mão em meu ombro e ouvi uma voz bem familiar me dizer:

 

- Surpreso?

 

Era um dos meus grandes amigos, mas a confusão em minha cabeça só aumentava, ele aparentava ter uns trinta anos a menos desde a última vez que havia estado com ele, há pouco mais de uma semana! Um turbilhão de dúvidas incendiava minha mente, já não sabia se estava vivo ou se estava morto... Se estava no céu ou na terra!

Aquela moça que parecia ser Luana veio em minha direção... notando meu embaraço, me abraçou e no meio daquele aconchego, perguntei se era realmente ela... A resposta foi o estopim para que eu me juntasse aos demais naquele choro de alegria:

 

- Pai...

 

Passada a surpresa inicial, comecei a fazer perguntas. Foi então que me disseram que haviam construído aquele lugar entre as montanhas, acima das nuvens, ao lado do céu... E tinham as estrelas como vizinhos! Uma definição bem romântica para uma nova era! Não usaram concreto, gesso ou madeira... Usaram o amor e o respeito como base para tudo! O projeto era de desejos e realizações, e o desejo de todos ali era chegar e ficar!