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PASSO NÚMERO IX

Bem vindos à Terra

Memórias de Luana

 

Não havia nada ali. Era a ausência total de tudo como nós conhecíamos. Não havia o ar, o vento, a água... A terra estava em seu estado bruto. Não havia sensação térmica, nem frio e nem calor. Não havia cores, era como se tudo fosse uma paleta discreta, diminuindo do marrom pálido ao cinza mórbido, totalmente sem vida, sem qualquer tipo de animal. O que mais nos surpreendeu foi o tom acinzentado da atmosfera.

Nossas reuniões de planejamento eram sempre no segundo planeta a partir do sol. Sempre que precisávamos tomar nossas decisões partíamos para lá. Sabíamos que tudo dependia de nós e então descíamos para colocar em prática todo nosso conhecimento. Tudo fazia tanto sentido agora, todos os anos de estudo, toda a calma observando a ciência, as estruturas celulares, a natureza. Nos dividimos em três grupos: Eu e meu pai desenvolvíamos os vegetais, Elias e Raquel, a vida animal e Paula e Henrique os minerais. Reinaldo era o “coringa” e sempre colhia os dados necessários para os ajustes.

Era frustrante ver meu pai se decepcionar com os erros na estrutura molecular das plantas. Eu mesma por horas me perdia em meio a tanta informação, mas nós precisávamos dar o nosso melhor. Miguel sabia todas as respostas, mas só nos observava. Queria ver nosso progresso, queria nos ver merecer tudo que viria depois. Entre erros e acertos, a vida marinha ia sendo estabelecida, de acordo com as condições do planeta. Quanto mais a atmosfera ia sendo alterada, mais os animais eram programados para sair do mar!

Entendemos que para a vida baseada em carbono se desenvolver teríamos que baixar a temperatura com ajuda de plantas específicas. Então desenvolvemos as algas para habitar os oceanos. Teríamos que improvisar começando pelas bases e no princípio de absolutamente tudo porque uma única falha ou esquecimento poderia nos fazer chegar ao topo da pirâmide sem bases sólidas, e poderíamos gerar o desequilíbrio. Um mísero esquecimento e poderíamos instalar o caos.

A vida marinha então tomou seus primeiros passos com animais ainda microscópicos! Em nossas reuniões Reinaldo sempre surgia com propostas das mais divertidas. A fixação dele eram asas. Sua ânsia de voar depois que descobrimos essa sensação a primeira vez o levava a querer colocar asas em tudo, enquanto nós mulheres não víamos a hora de formar animais mais simples, desses que se põe na palma da mão e a gente se perde em devaneios, porque não parecem fazer o menor sentido e mesmo assim nos tomam! Assim surgiu a Joaninha. Eu queria cores, queria simetria e formas, Paula queria algo minúsculo que observado de perto parecesse grandioso e nos fizesse pensar na vida. E Reinaldo só queria asas!

Miguel intermediava as votações e sempre era complicado quando tínhamos que estabelecer certas situações, como a cadeia alimentar e animais peçonhentos. O controle biológico e os animais que estariam abaixo da cadeia alimentar proporcionavam sempre debates acalorados. Embora soubéssemos que era necessário, causava tristeza saber que a vida animal deveria ser daquele jeito. Sempre sonhei com um mundo sem picada de marimbondo ou ferroada de lacraias.

Mas pior seria se déssemos “asas” à imaginação de Reinaldo, que insistia em ver animais alados o tempo inteiro! Dos mais perigosos aos mais inofensivos! Escorpiões e cobras foram barrados de imediato por nós mulheres, mas o irritante conseguiu a aprovação de muitos, como os insetos, principalmente as baratas. Reinaldo, jamais vou te perdoar por isso!!! Mas o pior de tudo é saber que faz sentido, que a gente não pode ignorar as coisas que precisam acontecer. Para que a vida humana se estabelecesse da maneira como devia ser, era preciso determinar todo o ciclo dos animais. Era necessário e nós sabíamos!


 

 

IMPORTANTE: Este é apenas um RESUMO deste capítulo e deve ser utilizado APENAS como guia para se ouvir a trilha sonora. Para leitura completa, por favor, faça o DOWNLOAD do arquivo em PDF.

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