Memórias de Carlito

 

Todos estavam partindo. Por mais que eu não acreditasse, aquilo tudo estava realmente acontecendo. Eu me vi de pé, num lugar bem alto e olhava as plataformas ao longe, os foguetes sendo lançados! Não havia correria nem desespero, mas as pessoas estavam assustadas. Uma menina segurava a minha mão... Não sei quem era, mas percebi uma grande incerteza no seu semblante. Uma mulher veio ao seu encontro e juntas desceram para ocupar o lugar que já estava previamente reservado a elas.

Sentia-me perdido entre o céu e a terra. Toda a minha vida se transformara numa torre de papel... E já não sabia mais em quem acreditar!

Perdi a noção das horas. Não sabia se ficava em silêncio ou gritava. Não havia mais planejamento. Apenas observava aquela fuga orquestrada de forma improvisada, mas ordeira.

Nossa casa estava ficando vazia... E eu não tinha mais razão ou lógica. Por mais que eu tentasse decidir o que faria, minha mente era como um furacão.

Ainda pensava num último argumento para convencer as pessoas de que aquilo estava errado... Mas embora eu argumentasse, ninguém me dava atenção. Todos tinham o conhecimento necessário para acreditar que eu estava errado. Com todo meu esforço, consegui parar um grupo de jovens e por alguns minutos falei como um desesperado! Lembrei a eles do que as escrituras diziam, que o planeta permaneceria inabalável para sempre! Que tinha que haver um Deus vivo, um Criador, e que deveria existir um sentido para a vida!

Nós tivemos a chance da redenção e finalmente quando conquistamos a felicidade, nosso mundo estava desabando!

Eu parava um por um e dizia que aquilo não podia ser verdade! Tentava raciocinar pelo absurdo, pelo ilógico e a única palavra, o único argumento que eu tinha era “fé”!

A maioria deles achava graça e seguia o caminho, desdenhando de mim.

Mas no meio daquilo tudo, daquela multidão atônita e descrente, seis pessoas me deram ouvidos e ficaram, se juntando a mim naquela resistência baseada numa fé sem lógica ou razão.