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PREFÁCIO


 

Meu nome é Nilton. Já sou um homem de idade, calejado pela vida... Já ri muito, já sofri muito. Já amei e já me decepcionei. Já vivi, muitas e muitas coisas. Só não experimentei drogas, nunca tive a curiosidade de ser nada além do que eu sou. Eu estou no comando do meu corpo e jamais permitiria que uma substância tomasse o controle da minha mente!

Achei necessário dizer isto logo no início para que você, que está lendo este livro, não pense, ainda que de forma irônica, que ele é baseado em qualquer tipo de consequência psicodélica, em virtude do uso de substâncias psicotrópicas.

Eu não preciso de nada além de minha criatividade para “viajar” para outros mundos, para outras dimensões... Minha mente é total e inteiramente sadia! E eu me permito exercitar meus neurônios de forma pouco ortodoxa, mas muito bem oxigenada pelo amor e pelo desejo de sermos cada vez mais humanos, mais dignos e mais sensatos!

Mas o fato é que desde minha infância eu “ouço” uma voz...

Não... Eu não estou louco, juro pra você que não estou! E embora não tenha vencido a guerra de Waterloo, sigo na minha batalha todo dia, firme e forte!

Brincadeira, galera... Foi só para não perder a piada, foi só pra quebrar o gelo!

Vamos falar sério agora, ok!

Eu escuto sim, uma voz!

E a primeira vez que a ouvi, tinha aproximadamente sete anos. Depois este fenômeno foi se repetindo em várias ocasiões, de forma mais espacejada, mas sempre em momentos importantes pra mim. Não era algo audível, que eu pudesse afirmar que “escutava” com os ouvidos... Parecia mais como um tipo de transmissão que meu cérebro captava e decodificava em palavras. Para ser mais claro, não é exatamente como um “som”, isto chega em minha mente e é codificado como letras imaginárias. Não tente entender, é muito “doido” a forma como isto acontece... mas eu já me acostumei!

De todas as vezes que ela “falou” comigo, a mais marcante foi quando certa vez estava retornando do trabalho e, de repente, do nada, essa voz sem identidade me disse:


 

- (vai acontecer uma coisa horrível que vai mudar a vida de vocês.)


 

É desta forma que chega pra mim... sem aviso, sem preparo, sem anúncio prévio, simplesmente chega, eu “capto” a informação de forma silenciosa e fico ciente do que me foi dito.

Ao chegar em casa e ainda aturdido com a mensagem que havia recebido, comentei com minha família:


 

- Sabe aquela voz que de vez em quando fala comigo? Acabei de ouvi-la dizer que vai acontecer uma coisa horrível que vai mudar a vida da gente.


 

O meu enteado respondeu:


 

- Também estou pressentindo que algo de ruim vai acontecer... Só que em escala mundial.

- Não é não – respondi - É com a gente!


 

Três horas mais tarde ele seria assassinado. Foi uma perda dolorosa que realmente mudou tudo. Nossa vida nunca mais foi a mesma. Foi um pedaço da nossa história que se perdia e por mais que tentássemos superar aquele episódio, para sempre ficaria um enorme vazio.

Esta “premonição” foi algo realmente perturbador, mas eu já estava habituado a este fenômeno. E não parou por ai... Como já mencionei, aconteceram muitas outras vezes, e sempre em momentos decisivos na história de minha vida!

Vocês poderiam me perguntar se alguma vez eu pensei que estava ficando esquizofrênico. Para dizer a verdade, por muitas vezes pensei sim. Porém, tudo o que essa voz me dizia, acabava acontecendo! Como então eu poderia duvidar que ela realmente existia? Como poderia pensar que eram devaneios provocados por delírios dentro de meu cérebro? Ou como crer que tudo era fruto de minha imaginação, ou que minha sanidade havia desaparecido, dando lugar à loucura? Os fatos eram concretos: a voz surgia, falava alguma coisa e, pouco tempo depois, tal coisa acontecia!

Mas como no filme “O Livro De Eli”, eu seguia a minha caminhada e ia ouvindo o que aquela voz ia me dizendo:


 

- (Faça isso...)


 

Ou:


 

- (Cuidado com aquilo...)


 

Ou ainda:


 

- (Vai acontecer tal coisa...)


 

Passei a conviver pacientemente com aquela situação, como se fosse algo normal. Era como se alguém estivesse me aconselhando. Eu estava sendo guiado, por algum motivo... Sim, tinha que haver um motivo! Tinha que existir uma lógica racional para tudo aquilo, algo que eu embora não compreendesse, aceitava! Ouvia o que ela dizia e seguia o que fora orientado, me preparando para enfrentar um problema ou me desviando do que poderia trazer danos à minha vida.

Foram incontáveis as vezes em que isto aconteceu... Incontáveis! Por toda a minha vida ela sempre esteve presente. Não tenho como imaginar as coisas que deixaram de acontecer comigo, coisas que sequer fiquei sabendo... Humildemente eu ouvia e instintivamente procurava seguir aqueles “conselhos”. E sempre agradecia a Deus, afinal, aquilo só poderia ser de Deus, como acreditar que não fosse!

Anjo da guarda? Não sei. Uma alma de outro mundo? Não faço a mínima ideia.

Também nunca fiz questão de saber... Não perguntava, não questionava. Quando chegasse a hora eu iria saber. Mas a vida foi passando, passando... e chegou um momento em que eu já não tinha muito o que fazer na vida e resolvi arriscar!

Porque não?

Se havia alguém me orientando, me protegendo do mal, então a minha existência devia ter algum propósito especial! E, se assim fosse, então eu deveria ser parte de algo bem maior, determinado por alguém ou alguma coisa realmente grande. Se é verdade que existe um Criador, então a vida tem um sentido! Todos nós temos uma religião, todos nós temos alguma crença! E mesmo aqueles que alegam não crer em nada, é certo que em dado momento, quando sua vida estiver em perigo, naquele instante final, ele se renderá a esta realidade e, então, exclamará em voz alta um sonoro MEU DEUS!

O conceito de religião, de existência, de existencialismo, evolução e criação, é, na verdade, a ideia que nos molda ao longo dos anos, desde a nossa infância. É, muitas vezes, uma adequação à nossa realidade. Sempre criamos uma interpretação que caiba dentro de nossos desejos, quando, na realidade, deveria ser o contrário! O ser humano aprendeu a adaptar sua crença àquilo que lhe convém. Sempre foi assim!

Definitivamente eu não era uma exceção! Passei a vida inteira me esquivando, me adaptando, observando pelo lado da minha lógica racional, embora sempre estivesse com as portas abertas a novas possibilidades. Isto é ter sede de cultura, vontade de obter conhecimento!

Mas tudo o que eu havia aprendido era completamente inútil para explicar o porquê destas “mensagens”. E por mais que eu meditasse sobre o assunto, girava, girava e acabava sempre com aquela pergunta em minha mente: O que é afinal esta voz? Porque ela fala comigo? O que há por trás disto?

Embora cultivasse a dúvida, uma certeza era clara para mim: As coisas que eu ouvia eram apenas e tão somente para garantir a minha segurança! Como se por algum motivo fosse necessário que eu estivesse ali naquele momento, naquele contexto e que permanecesse vivo! As coisas que eu deveria saber para estar em segurança, aquela voz me dizia! Algum mal que eu deveria evitar ela sempre me alertava. E eu, pouco a pouco, fui aprendendo a aceitar aquilo, da maneira mais tranquila e natural possível.

Se algum dia eu resolvesse escrever cada uma das vezes que aquela voz me alertou, certamente daria um livro! As mensagens, por si só, já dariam uma bela obra, não de ficção, mas de alguma nova ciência espiritualista que pudesse ajudar outras pessoas, quem sabe, a identificarem suas próprias experiências, suas próprias vozes, e terem a certeza de que também não são esquizofrênicas.

Quantas outras pessoas pelo mundo afora passam por isso? Vai saber...

Conheço casos de pessoas que sonham. Sonham com anjos, com parentes que já partiram dessa vida, ou, até mesmo, com pessoas que nunca conheceram. No meu caso era diferente, eu “ouvia” aquela voz que ressoava na minha caixa craniana. Inicialmente, ficava em dúvida, mas depois tinha certeza de que alguém estava ao meu lado... Os fatos comprovavam em cada uma das ocorrências, era infalível!

Nas diversas vezes que meditei sobre o assunto, sozinho em meu quarto, buscava explicações, tentava encontrar respostas, eliminando as possibilidades, uma a uma.

Aquilo era algo do bem?

Ou era do mal?

Seria apenas intuição?

Eu sofria de algum problema mental?

Eu realmente estava ouvindo aquela voz ou era a minha própria consciência?

Embora ela aparecesse somente nos momentos que eram necessários, eu sabia que estaria ali, perto de mim, sempre que fosse preciso. Mantinha minha fé em Deus, mantinha minhas convicções religiosas e não permitia que aquilo influenciasse em minhas ideologias pessoais. Eu tinha meus próprios raciocínios, minha própria lógica, já havia estudado a Bíblia antes e, embora as referências que tinha sobre esse tipo de assunto eram desaprovadoras, eu não tinha meios para evitar. Simplesmente quando acontecia, acontecia! Eu não tinha como tampar os ouvidos... eu ouvia e pronto, estava além da minha capacidade de impedir que acontecesse, estava muito acima de minha capacidade de controle, independente da minha compreensão. E a cada ano, eu sentia mais segurança nos meus passos, como se estivesse blindado. Sabia que se tomasse um caminho errado, seria alertado sobre o perigo.

Então, caro leitor, me responda:

- Se alguém lhe disser a verdade por dez vezes, na décima primeira, você duvidaria?

Ela nunca me disse nada que indicasse que fosse do mal. Nunca fui aconselhado a odiar, a me vingar de alguém, a fazer o mal a qualquer ser vivo! Nunca me revelou algo sobre qualquer pessoa que pudesse provocar ressentimentos de minha parte, nem sobre o que pensavam de mim ou, então, se tramavam contra mim. Jamais me fez crer que deveria procurar ajuda psicológica ou espiritual por ser algo incoerente diante de meus princípios. Não precisava de nenhum ritual para que ela se manifestasse e, mesmo nos momentos em que eu realmente achei que precisava receber alguma ajuda, ela não respondia. Era sempre quando ELA achava que deveria se manifestar.

 

Certa vez eu estava em dificuldades e ela me disse:


 

- (Hoje o seu telefone vai tocar e sua vida vai mudar.)


 

Menos de duas horas depois o meu telefone tocou, e a minha vida mudou mesmo! Mas como é que ela sabia disso? Que raio de lógica explica estes acontecimentos?

Eu estava convicto de que um dia iria tirar isso a limpo! Era um compromisso meu: um dia vou saber a verdade. Não imaginava como, mas tinha a certeza de que iria descobrir. Essa hora vai chegar... A hora do encontro!

Então, diante do momento em que me encontrava àquela altura da vida, completamente só, isolado do convívio de outras pessoas, já de idade, resolvi elaborar um plano para provocá-la, forçando essa “voz” a se manifestar de forma clara e definitiva. Planejei uma forma convincente de simular uma situação em que não restasse dúvida de que eu cometeria suicídio. E consistia em três etapas:

  • Ficar, pelo menos, dois dias fingindo uma profunda depressão, sem sair de casa, sem falar com ninguém, permanecendo sem tomar banho e sem me alimentar direito;

  • Remexer em papéis antigos e passar o tempo olhando para fotografias antigas, como se estivesse melancólico;

  • Separar objetos que eu poderia usar no suposto ato final, como um estilete, uma corda, ou um saco plástico.

Assim fiz e a partir do momento em que iniciei esta simulação, não acendia mais as luzes. Permanecia a maior parte do tempo olhando pela janela ou deitado, pensativo. Às vezes sentava na beira da cama e olhava para o nada, compenetrado, observando para o longe. Mantinha as pupilas dilatadas e os olhos meio abertos, como se nada mais importasse para mim, demonstrando uma desilusão profunda. A poeira acumulada no chão já incomodava bastante, mas era preciso demonstrar completa falta de interesse com as coisas mais básicas. Era para assumir uma profunda depressão... Das boas!

Sentia que não podia falhar, agora era tudo ou nada! Não saia mais de casa, não ligava para ninguém nem atendia as poucas ligações que recebia. Na terceira noite eu achei que já era tempo suficiente para convencer a quem quer que fosse o dono ou dona daquela voz e me preparei para executar a parte final... Agora era a hora da verdade!


 

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